Ler e acompanhar mentalmente o desenvolvimento de um, ou vários, argumentos em um diálogo de Platão, mormente nos da última fase, tais como o “Parmênides” ou o “Sofista”, constitui-se em um exercício intelectual extenuante a exigir um esforço supremo de atenção — mas que não vai além disto. Não se encontram, ocultas no texto, grandes verdades, nenhuma descoberta metafísica realmente importante. Tudo se resume, conforme o conselho do próprio Parmênides ao jovem Sócrates, num exercitar-se em “conversa fútil” — Lalia. Argumentar para confundir somente — erística pura. O objetivo é, segundo Parmênides, sublime: exercitar a mente na procura da verdade. Todavia, encontrar-se-á alguma conclusão valiosa ao cabo das inúmeras sendas de argumentação por onde nos conduz o hábil Platão? Pois tudo se passa, na verdade (embora não tão declaradamente), como se entre um mestre e o seu discípulo o seguinte modelo de diálogo fosse constantemente utilizado:
-
E observe mais o
seguinte: um mais um tem como resultado dois?
-
Sim.
-
Mas dois e um não
tem como resultado o três?
-
Exatamente.
-
No três coexistem,
então, o dois e o um.
-
Claro.
-
Mas o dois contém
dois uns, conforme concluímos a pouco.
-
Foi assim mesmo
que concluímos.
-
Logo o três se
compõe tanto de três quanto de dois números?
-
Perfeitamente.
- Portanto, o dois e o três equivalem-se.
Quem
concorda com o sofista? O locutor imaginário de Platão ou nós, leitores atentos
de seu diálogo? Façamos nossas as palavras com as quais o já citado Parmênides
extravasa o seu assombro diante dos intrincados e intermináveis argumentos da
sofistica: “Que oceano de palavras devo atravessar no transcurso desta minha existência!"
José Cassais
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