INÍCIO CLIPARTS PIADAS PINTURAS POEMAS RESENHAS SUDOKU
FRASES TEXTOS TERMOS DE USO

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Sofística Platônica

Ler e acompanhar mentalmente o desenvolvimento de um, ou vários, argumentos em um diálogo de Platão, mormente nos da última fase, tais como o “Parmênides” ou o “Sofista”, constitui-se em um exercício intelectual extenuante a exigir um esforço supremo de atenção — mas que não vai além disto. Não se encontram, ocultas no texto, grandes verdades, nenhuma descoberta metafísica realmente importante. Tudo se resume, conforme o conselho do próprio Parmênides ao jovem Sócrates, num exercitar-se em “conversa fútil” — Lalia. Argumentar para confundir somente — erística pura. O objetivo é, segundo Parmênides, sublime: exercitar a mente na procura da verdade. Todavia, encontrar-se-á alguma conclusão valiosa ao cabo das inúmeras sendas de argumentação por onde nos conduz o hábil Platão? Pois tudo se passa, na verdade (embora não tão declaradamente), como se entre um mestre e o seu discípulo o seguinte modelo de diálogo fosse constantemente utilizado:

-         E observe mais o seguinte: um mais um tem como resultado dois?

-         Sim.

-         Mas dois e um não tem como resultado o três?

-         Exatamente.

-         No três coexistem, então, o dois e o um.

-         Claro.

-         Mas o dois contém dois uns, conforme concluímos a pouco.

-         Foi assim mesmo que concluímos.

-         Logo o três se compõe tanto de três quanto de dois números?

-         Perfeitamente.

-         Portanto, o dois e o três equivalem-se.

Quem concorda com o sofista? O locutor imaginário de Platão ou nós, leitores atentos de seu diálogo? Façamos nossas as palavras com as quais o já citado Parmênides extravasa o seu assombro diante dos intrincados e intermináveis argumentos da sofistica: “Que oceano de palavras devo atravessar no transcurso desta minha existência!"


José Cassais

Nenhum comentário:

Postar um comentário