Pergunta: Qual é a importância essencial do conhecimento?
Resposta: Tal importância
só pode ser relativa à sua capacidade de permanência e disponibilidade. Logo,
por ter a sua sede na memória que é, ela mesma, uma das nossas capacidades mais
instáveis o conhecimento deve ser considerado um atributo fugaz, o qual tem de ser
constantemente atualizado, quer dizer, recriado e fundido em uma nova
estrutura. A memória é ainda uma capacidade variável de um ser humano para
outro, ela que sustenta o conhecimento adquirido, mas ao mesmo tempo o desfaz
conforme nos distanciamos da experiência original (concreta ou abstrata) que o
gerou como conhecimento específico. Isto demonstra claramente o quanto pode ser
superficial e desnecessário qualquer tipo deste conhecimento não básico que
subsiste sem um uso determinado na existência mais prosaica e que só se mantém
na memória à custa de um interesse renovado num tema determinado – tal como se
um homem ás portas da morte estivesse sendo constantemente revivido pelas
técnicas da moderna medicina.
O conhecimento humano é
fluído, plástico por sua própria natureza, em constante evolução, jamais, porém
essencialmente indispensável ou inalienável da natureza humana verdadeira.
Nossa memória instável e variável nos permite mantermos certo nível de
conhecimento prático disponível, e todo profissional depende desta capacidade
para exercer o seu mister, desde que os aspectos relevantes de sua área de
conhecimento estejam também fixados e disponíveis em livros ou outra forma
qualquer de meios que se prestem à uma consulta eficaz.
Logo, os valores básicos
do ser devem ser procurados fora da estrutura deste conhecimento tão instável,
uma vez que o homem, individualmente, nunca foi senhor da totalidade do
conhecimento possível, enquanto que a felicidade que pode nos provir do contato
com a concretude da realidade é sempre uma necessidade imediata. Foi a
experiência desta realidade plenamente apropriada que gerou e nutriu os
diversos ramos válidos do saber. Até mesmo a filosofia tem sua utilidade, ainda
que permaneça no mesmo plano das outras ciências, como a engenharia ou a
física, que são ciências meramente explicativas, úteis quando ao seu
conhecimento seguem-se ações concretas destinadas a transformar a realidade a
fim de que os seres humanos desfrutem de uma vida mais confortável.
O conhecimento também não
pode trazer felicidade, pois elucida sobre as causas, mas delas não liberta os
indivíduos. O que devemos fazer, então, senão valorizarmos este conhecimento
evanescente tão somente no seu aspecto necessário e também prático, que é o que
nos permite trabalhar produtivamente a realidade a nos envolver de forma tão
objetiva?
Para que enchermo-nos de
conhecimento relativo, quer dizer, conhecimento evanescente, como se disto
dependesse a nossa própria humanidade?
José Cassais
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