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sábado, 26 de agosto de 2023

O Ser Não é o Saber

Pergunta: Qual é a importância essencial do conhecimento?

Resposta: Tal importância só pode ser relativa à sua capacidade de permanência e disponibilidade. Logo, por ter a sua sede na memória que é, ela mesma, uma das nossas capacidades mais instáveis o conhecimento deve ser considerado um atributo fugaz, o qual tem de ser constantemente atualizado, quer dizer, recriado e fundido em uma nova estrutura. A memória é ainda uma capacidade variável de um ser humano para outro, ela que sustenta o conhecimento adquirido, mas ao mesmo tempo o desfaz conforme nos distanciamos da experiência original (concreta ou abstrata) que o gerou como conhecimento específico. Isto demonstra claramente o quanto pode ser superficial e desnecessário qualquer tipo deste conhecimento não básico que subsiste sem um uso determinado na existência mais prosaica e que só se mantém na memória à custa de um interesse renovado num tema determinado – tal como se um homem ás portas da morte estivesse sendo constantemente revivido pelas técnicas da moderna medicina.

O conhecimento humano é fluído, plástico por sua própria natureza, em constante evolução, jamais, porém essencialmente indispensável ou inalienável da natureza humana verdadeira. Nossa memória instável e variável nos permite mantermos certo nível de conhecimento prático disponível, e todo profissional depende desta capacidade para exercer o seu mister, desde que os aspectos relevantes de sua área de conhecimento estejam também fixados e disponíveis em livros ou outra forma qualquer de meios que se prestem à uma consulta eficaz.

Logo, os valores básicos do ser devem ser procurados fora da estrutura deste conhecimento tão instável, uma vez que o homem, individualmente, nunca foi senhor da totalidade do conhecimento possível, enquanto que a felicidade que pode nos provir do contato com a concretude da realidade é sempre uma necessidade imediata. Foi a experiência desta realidade plenamente apropriada que gerou e nutriu os diversos ramos válidos do saber. Até mesmo a filosofia tem sua utilidade, ainda que permaneça no mesmo plano das outras ciências, como a engenharia ou a física, que são ciências meramente explicativas, úteis quando ao seu conhecimento seguem-se ações concretas destinadas a transformar a realidade a fim de que os seres humanos desfrutem de uma vida mais confortável.

O conhecimento também não pode trazer felicidade, pois elucida sobre as causas, mas delas não liberta os indivíduos. O que devemos fazer, então, senão valorizarmos este conhecimento evanescente tão somente no seu aspecto necessário e também prático, que é o que nos permite trabalhar produtivamente a realidade a nos envolver de forma tão objetiva?

Para que enchermo-nos de conhecimento relativo, quer dizer, conhecimento evanescente, como se disto dependesse a nossa própria humanidade?

 

José Cassais

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