Tive parte, ontem à noite, em uma experiência peculiarmente estranha. Encontrava-me participando de uma aula teórica sobre legislação e sinais de trânsito. Num determinado momento, a professora pediu aos alunos que preenchessem com respostas um teste sobre o assunto que estava sendo tratado, e depois solicitou que lessem todos, em voz alta, as questões com as respostas corretas. Os alunos começaram então a ler, nem todos no mesmo ritmo, nem todos lendo todas as palavras, alguns apenas balbuciando-as; uns com voz reduzida, outros, mais corajosos, falando mais alto.
Mas as vozes soando juntas guardavam uma certa harmonia, as frases repetidas com alguma defasagem faziam lembrar as antífonas do catolicismo e as ave-marias que os fiéis rezam em conjunto, assim como os versículos bíblicos que são lidos por todos nas igrejas evangélicas, quando o pastor solicita que assim o façam. Se fechasse os olhos e não prestasse atenção no sentido das palavras (como estava, mais ou menos, fazendo) sentir-me-ia (como realmente me senti) participando de um culto religioso.
Que estranho poder é este que reside nas
palavras de um texto lido em conjunto por uma congregação de seres humanos, o
qual empresta um sentido místico às prosaicas questões de um teste sobre sinais
de trânsito!
José Cassais
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