Os infelizes estão em toda a parte, e a condição essencial para se viver neste mundo sem ser incomodado é ser também um infeliz. Ou, ao menos, esconder a própria felicidade e agir como se fosse um deles.
O menor sinal de vida além daquele ao qual o infeliz está acostumado já desperta a sua preocupação. Como a vida para tal pessoa não atinge jamais o significado glorioso que lhe é inerente ela está mesmo pronta a entregar a sua por qualquer ninharia, pois sente que não está perdendo alguma coisa importante.
O infeliz está cercado, por todos os lados, de um mar de infelizes que dão a esta forma de existir, pelo seu grande número, a aparência formal de normalidade. A genuína felicidade desperta de imediato a sua desconfiança e inveja. Se ao menos os infelizes não fossem tão invejosos! Mas não: a falha espiritual que os faz ser como são é a mesma que os impede de atingirem a humildade em sua baixa condição, lançando-os no labirinto escuro da inveja. A causa à priori de seu mal é, pois, uma incapacidade congênita de desejarem o bem acima de qualquer outra coisa e a qualquer preço.
O infeliz é um fraco, não possui em si a força necessária para se lançar à conquista do máximo num mundo que se opõe a realização de seus objetivos, mesmo correndo o risco de falhar, exigindo-lhe esforço e perseverança constantes além de envolvê-lo fortemente em uma rede de tentações a fim de o desviar do caminho verdadeiro.
Desprovidos
de qualidades reais os infelizes fazem da chatice a sua principal qualidade (se
é que se pode chamá-la assim), e toda a satisfação que alcançam na vida é
através da prática constante da chateação de seus semelhantes, a qual eles
transformam, ao longo de suas miseráveis existências, na sua arte maior.
José Cassais
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