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sábado, 30 de março de 2024

A Precedência da Linguagem


Primeiramente é a língua, a fala. Depois é que surge o pensamento. Mas isto segundo um critério de temporalidade, sem nenhuma referência a qualquer tipo de precedência ontológica ou metafísica.

De acordo com esta perspectiva temporal, a linguagem falada vem em primeiro lugar. Porquanto, como é que se constrói o pensamento? Não está ele apoiado sempre em uma língua que é falada? Pensamos com palavras, e na ausência delas a nossa experiência intelectual não passa de um confuso amálgama de sensações e memórias que não podem ser comunicadas ou efetivamente analisadas, que nunca se traduzem em conceitos, e que não podem, portanto, aprimorar o que as experimenta nem a sociedade na qual ele está inserido.

Ser humano algum nasce pensando, todavia, quando começa a fazê-lo é sempre em uma determinada linguagem ouvida, a linguagem de seus pais. Sons significantes são associados a intuições, a objetos, a ações, a sentimentos — a ideias. O pensamento se constrói invariavelmente em uma linguagem específica, nela se desenvolve e exerce a sua atividade, e, fora dela, não acontece de maneira alguma. Pensamos em português, em inglês ou javanês, entretanto, fora de uma determinada linguagem não pensamos, pelo menos não da forma como se entende o pensar de qualquer ser humano que fala e pensa utilizando uma língua, nestes dois níveis de expressão do ser. Ora, nenhum homem nasce já tendo o domínio de sua linguagem. Tal conquista se faz pelo ouvir e pelo praticar, falando, o que primeiramente se ouviu e gravou na memória, como pensamento onde o significante está sempre ligado ao significado.

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