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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Poesia - As Sirenes




AS SIRENES

 

Quando as sirenes começaram a tocar

A telefonista não interrompeu

A ligação que ia em meio,

As cotações no mercado não cessaram de subir

E descer nas suas escadas vazias,

E o pistoleiro permaneceu calado

No escuro, à espreita.

 

A mãe não parou de amamentar a criança

Quando as sirenes começaram a tocar,

E os cães ergueram as suas cabeças, lentamente,

Alguma coisa mordendo seus cérebros.

Ninguém percebeu que não eram

As sirenes costumeiras,

Dessas que anunciam incêndios

E automóveis prestes a serem roubados,

Ou o fim da aflição do operário na fábrica.

 

O dia ia em meio, não eram nem mesmo

“as cinco en punto de la tarde”,

Quando elas começaram

Seu monótono refrão impessoal,

Sua canção aguda (e era a única que conheciam),

Mais simples do que a das metralhadoras soando

Ao longo de uma cerca de arames farpados,

Mais primitiva do que o grito de uma criança

Morrendo de tédio.

 

Quando as sirenes começaram a tocar

Ninguém prestou muita atenção.

Não se interromperam as conversas

Nem se deixou de comprar, vender,

Trocar vida e tempo por dinheiro.

No princípio ninguém reparou —

Mas não tiveram culpa.

Não haviam sido avisados

De que as sirenes tocariam.

Apenas alguns poucos escolhidos

Tinham sido treinados

Para aguardar o som que viria, repentinamente.

Esses ainda eram os mesmos, os mesmos,

Muito tempo depois,

Quando as sirenes silenciaram.


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